15 de abril de 2021 às 12:00

#TBT: Ouça 10 discos que mostram por que 1991 foi um ano único na história da música

Muitos álbuns fundamentais saíram há 30 anos. Este especial relembra alguns desses clássicos

Quanto mais o tempo passa, mais claro fica que 1991 foi um dos anos mais especiais da história da música pop, aqui usado de maneira abrangente, englobando do rock alternativo ao rap, passando pelo metal, dance music, R&B e mais. Para marcar esse período único, preparamos um especial, em duas partes com alguns exemplos do porquê deste ter sido um ano tão especial. Nos limitamos a 10 discos, mas o fato de que poderíamos ter ampliado a lista para 30, 40, ou até mais álbuns, só comprova que a "safra de 1991" foi especial.
"Nevermind" - Nirvana
O disco que define o rock dos anos 90 talvez não soe tão revolucionário se ouvido pela primeira vez três décadas depois de seu lançamento. Isso porque sua fórmula foi tão copiada, ou seguida, a ponto dele soar quase "comum". Mas, não se enganem, em 1991, "Nevermind" soava único. A mistura exata entre pop e sons abrasivos, a angústia transmitida pela voz de Kurt Cobain e a produção de Butch Vig, acabaram por elevar o que poderia simplesmente ser mais um bom disco de rock alternativo lançado por uma grande gravadora em um marco geracional. Os grandes hits, "Smells Like Teen Spirit", "Come As You Are e "Lithium" são daqueles que já estão gravados na cabeça de várias gerações de fãs de rock, mas "Nevermind" tem outros pequenos prazeres que sempre merecem ser redescobertos, casos das melódicas "Drain You" ou "On A Plain", as soturnas "Polly" e "Something In The Way" ou as pesadas "Territorial Pissings" e "Breed", que mostravam a influência do punk e hardcore no som do trio.
"Nevermind" chegou ao topo da parada da Billboard, em uma época em que isso significava muito, colocou Seattle no mapa, espalhou a moda grunge e, mais importante, refrescou o cenário musical roqueiro como nunca mais se viu. Muitas bandas independentes assinaram com grandes selos e o seu sucesso abriu caminho para outros nomes igualmente importantes - Soundgarden, Alice In Chains, Pearl Jam e o Mudhoney também lançaram trabalhos fundamentais em 1991 e, cada um a seu modo, também se beneficiaram desses novos ares.
"Achtung Baby" - U2
Bono disse que "Achtung Baby" trazia o som da "Árvore de Josué" sendo decepada, em alusão ao álbum "The Joshua Tree", lançado quatro anos antes que vendeu milhões e milhões de cópias e elevou a banda para um novo, e talvez jamais imaginado, patamar.
Gravado em Berlim, "Achtung" mostrava um grupo antenado com o cenário em sua volta, com a música eletrônica se fundindo organicamente com sons mais roqueiros, e disposto a relaxar um pouco, deixando a sisudez de outrora por uma abordagem mais bem humorada. Não que os grandes temas tenham sido abandonados. A religiosidade ainda estava presente, como em "Until the End of The World" e "One", faixa que se tornaria uma marca registrada da banda, tanto ou mais que os velhos cavalos de batalha, como "Pride (In The Name Of Love)" ou "With Or Without You", tinha a epidemia da AIDS como mote.
Na outra ponta, "The Fly", "Mysterious Ways", "Even Better Than The Real Thing" e "Zoo Station" traziam mais leveza e repaginavam a banda para a última década do século e, também, os apresentaram para uma nova geração.
"The Low End Theory" - A Tribe Called Quest
Em 1991 o cenário do hip-hop ainda não estava totalmente dominado nem pelo gangsta rap, nem pelos artistas solo e muito menos pelos CDs com mais de 75 minutos. Era uma época em que um grupo como o A Tribe Called Quest ainda conseguia atrair os elogios da crítica, influenciar muita gente e vender muito bem.
Este é o segundo disco deles e costuma aparecer em diversas listas de melhores discos já feitos, seja de hip-hop ou no geral. Com seus samples de jazz e os rapas em clima relaxado de Q-Tip, "The Low End..." apontou um caminho possível para o rap do futuro. A se lamentar apenas que ele não tenha sido tão seguido quanto o desejado, mas "The Low End...", e todos os outros discos deles, a bem da verdade, seguem atuais. O grupo chegou ao fim em 2017, pouco depois da morte de Phife Dawg, e está fazendo falta.
"V" - Legião Urbana
O quinto álbum da banda foi o primeiro feito depois que Renato Russo se descobriu soropositivo, ainda que ele nunca tenha declarado a sua condição publicamente. Isso, e o clima de depressão generalizado pelo qual passava o país naquele momento, com inflação descontrolada, economia em frangalhos e a classe política desacreditada, explicam a atmosfera pesada que permeia o trabalho.
Russo também estava passando por uma desilusão amorosa, e não escondeu o fato em suas letras sempre pessoais. "V" é um disco de duas metades. A primeira mais experimental, com faixas longas, quase progressivas, e a segunda um pouco mais pop, de onde saíram os hits radiofônicos. "Do "lado A", se destacavam a épica "Metal Contra As Nuvens", com toques de Tolkien, e a intensa, "A Montanha Mágica", com o cantor relatando suas experiências com drogas pesadas.
Da segunda metade, as melancólicas "O Teatro Dos Vampiros" e "Vento No Litoral" são as mais memoráveis.
"Metallca" (Black Album) - Metallica
O metal, e o hard rock, estavam em um ótimo momento no início dos anos 90, com um bom diálogo do gênero com o grande público e a vanguarda. De Sepultura ao Faith No More, passando por nomes tão diferentes como Pantera, Guns N' Roses, Ministry e Kyuss, os primeiros anos da década de 90 foram especiais para quem buscava sons mais pesados, em qual vertente fosse.
Entre todos esses nomes, é difícil não lembrar do Metallica, que, após anos de promessa, tomou o mainstream de assalto com um disco que vendeu muitos milhões de cópias, ainda que não tenha sido poupado de críticas por parte do público mais antigo, fã de discos como "Kill 'Em All" ou "Master of Puppets", verdadeiros clássicos oitentistas.
Polêmicas a parte, não se nega que o quarteto entregou um disco que conciliou integridade artística com apelo comercial, e que um álbum com "Enter Sandman", "Sad But True", "The Unforgiven e, as menos lembradas, "My Friend Of Misery" ou "Through The Never", sempre merece ser ouvido, por fãs de metal ou não.
"Screamadelica" - Primal Scream
Em 1991, o selo inglês Creation, que no meio da década estouraria a banca ao assinar com o Oasis, lançou três discos fundamentais: o melódico "Bandwagonesque", do Teenage Fanclub, o experimental e barulhento "Loveless", do My Bloody Valentine, já voltaremos a ele, e este terceiro disco dos escoceses do Primal Scream.
"Screamadelica" foi a perfeita união de passado e futuro. Ele abria em pegada soul/gospel com "Movin' On Up", mas, logo em seguida, descambava para a psicodelia dançante, o tecno para as pistas, o lounge e muito mais.
O disco pode não ter estourado globalmente, mas foi muito comprado por quem estava ligado nas chamadas "novas tendências" e apareceu com destaque em praticamente todas as listas de melhores discos daquele ano, e, posteriormente, da década e da história. "Screamadelica" é certamente um disco de seu tempo, mas ele ainda pode ser ouvido com prazer em 2021, e não só como artefato nostálgico.
"The Bootleg Series Volumes 1-3" - Bob Dylan
Este não é exatamente um disco novo, já que ele traz gravações feitas durante um período de 28 anos (de 1961 a 1989), mas ele causou uma revolução na indústria da música. Ao juntar dezenas de gravações inéditas de Bob Dylan, canções nunca lançadas, demos, versões ao vivo ou diferentes das oficiais, ele deixou claro que o público estava interessado em escutar o chamado lado obscuro dos artistas, ou seja, o material que, por um motivo ou outro, não se transformou em músicas nos discos oficiais.
Não demoraria muito para o mercado passar a ser inundado por lançamentos semelhantes, ou por novas edições de discos clássicos com faixas bônus e livretos informativos.
Para o fã de Dylan, esta foi a chance de, finalmente, poder ouvir canções lendárias que há anos só tinham sido ouvidas em discos piratas. "Blind Willie McTell", de 1983, em particular é uma que, atualmente, entra em qualquer lista de grandes canções do cantor e compositor.
Quanto às "Bootleg Series", elas seguiram sendo editadas. O volume dois (ou quatro, já que este pacote traz os três primeiros discos) chegando em 1998, sempre trazendo facetas desconhecidas de Dylan. O volume 15 saiu em 2019, e muitos outros discos ainda deverão ver a luz do dia, já que, está claro, o baú do cantor, prestes a fazer 80 anos, parece estar ainda muito recheado de material inédito.
"Blue Lines" - Massive Attack
Verdadeiro marco da música eletrônica britânica. "Blue Lines" prestava tributo à melhor black music das décadas anteriores, mas apontava inegavelmente para o futuro, com as linhas de baixo carregadas, o clima esfumaçado, os vocais repletos de soul de Shara Nelson e os raps de Tricky (na época Tricky Kid), que, em breve, deixaria o grupo para, sozinho, também fazer história.
"Blue Lines" ajudou a criar o chamado trip hop e apresentou ao mundo o trio formado por Grantley "Daddy G" Marshall, Andrew "Mushroom" Vowles e Robert Del Naja, o 3D (e que, acredita-se, possa ser a identidade secreta do artista Banksy).
"Blue Lines" guarda muitos prazeres em seus 44 minutos, especialmente na linda "Unfinished Sympathy", mas ele é daqueles discos que merecem ser ouvidos, e reouvidos na íntegra, assim como pelos menos os dois álbuns seguintes deles: "Protection" e "Mezzanine". O grupo, sem Del Naja, mas com Tricky de volta, segue na ativa. No ano passado eles lançaram o EP "Eutopia", mas os fãs seguem, já há 11 anos, na expectativa de um novo álbum.
"Loveless" - My Bloody Valentine
"Loveless" custou milhares de libras para ser feito e quase faliu a gravadora, que, como já dissemos, logo se recuperou. Um álbum que ainda soa original, único e como, provavelmente, um dos últimos feitos dentro de um formato rock que ainda soa diferente de tudo já feito até então. Este é "Loveless", a maior obra-prima desse quarteto irlandês, liderado por Kevin Shields, que demorou nada menos que 22 anos para entregar o seu sucessor - como comparação, "Chinese Democracy", do Guns N' Roses, levou "apenas" 17 anos.
"Loveless" se tonou o marco do shoegaze, ou dream pop, como o gênero é também chamado. Um som marcado por guitarras carregadas de efeitos, e vocais encobertos na mixagem. Eles também ficaram famosos por suas apresentações marcadas pelo som perigosamente alto. O uso de protetores auriculares chega a ser mais do que recomendado, praticamente mandatório, a não ser que o fã esteja disposto ao risco de sofrer lesões auditivas permanentes. Quem já viu garante que a experiência é única, e obviamente, inesquecível.
"Blood Sugar Sex Magik" - Red Hot Chili Peppers
Depois de quatro álbuns e de construir uma grande fama no cenário alternativo, finalmente os Chili Peppers, cumpriram a promessa de virar uma banda gigante com este disco, lançado, curiosamente, em 24 de setembro, mesmo dia em que "Nevermind", do Nirvana, chegou ás lojas dos EUA.
O quarteto consolidava aquela que, para sempre, seria a sua formação definitiva, Anthony Kiedis, Flea, Chad Smith e John Frusciante, a mesma do igualmente ótimo "Mothers Milk" (1989), encontrando no produtor Rick Rubin o parceiro perfeito para a explosiva mistura de punk, funk, rock clássico, psicodelia e outras coisas mais que entravam no caldeirão sonoro. "Give It Away", as baladas "Under The Bridge e "Breaking The Girl" e "Suck My Kiss" ajudaram o CD a vender milhões e milhões de cópias mundo afora. Quem comprou por causa desses sucessos, também descobriu que canções não lançadas como single, caso de "The Power Of Equality" ou a faixa título, eram tão boas, ou mesmo melhores que os hits. A banda segue ativa e como uma das mais populares do planeta. O retorno de Frusciante também deixou os fãs animados pela possível chegada de mais um disco de estúdio com esta formação.

Fonte: Vagalume

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